Ninhá!

- Mãe, coincidências existem?
Os olhos grandes e bondosos a fitaram, entendendo o sentido da pergunta:
- Não filha. Não existem. Tudo tem um por quê. Uma razão.
- E então? Por que... Bem, você sabe. Se tudo tem um por quê... Até mais os singelos encontros não são em vão, né?
- Não, não são. Os encontros e até mesmo os desencontros nunca são em vão.
Silêncio. Elas se olharam.
- Mas mãe... Como pode? Como pode me acontecer uma coisa dessas?
- Certas coisas não tem explicação... Pelo menos não tem explicações nossas. Mas tem alguma razão.
- Mas por quê? Por quê? Eu tento mãe, você sabe que eu tento. Mas quanto mais eu tento, mais as coisas convergem para que eu lembre.
Novo silêncio. Os dois pares de olhos grandes e escuros se encaram. Um dos pares tinha um brilho incessante, resistente, alegre e triste ao mesmo tempo.
- E o que eu faço agora mãe?
- Você já percebeu que todos os planos que você fez, todas as ideias que você teve... Nenhuma deu certo? Não premeditadamente.
- É, mas...
- Mas sem você esperar, sem planejar, sem saber... Você o encontrou novamente.
- Eu tô ficando louca mãe. Eu estou enlouquecendo. Não é possível.
A mais velha dentre as duas sorriu. Um sorriso doce, carregado de ternura. Então disse:
- O que é pra ser, será. E quando as coisas são para ser, quando é destino das pessoas se encontrarem... Elas vão se encontrar. Haverão oportunidades. Segundas e terceiras chances.
- Eu já passei pela segunda?
- Filha, mas que pressa é essa?
- É que dói mãe! Dói de ficar o coração apertadinho. Acho que sou cardiopata.
A mãe riu-se das besteiras desesperadas da filha. Seu doce olhar pousou nas mãos da filha, que mexia nervosamente no celular.
- Não tem graça, mãe.
- Ora, tem sim, senhorita.
- Não tem. Dói, é sério. Aperta aqui ó. Eu vi ele e me deu até vontade de chorar.
- Chorar?
- É! Chorar. Foi uma coisa indescritível. E você aí rindo de mim.
- Ora, filha. É que você fica engraçada desse jeito.
- Fico não ó. - e fez biquinho franzindo a testa.
- Até ele estava rindo hoje. Ria você também.
- Mãe... Duas vezes num só dia! Como pode mãe? Como pode ser possível? Por quê? Será que tudo isso pra nada? Simplesmente pra alimentar uma coisa que não vai dar em nada?
- Você está sendo muito imediatista.
- Eu só queria ter uma certeza de que nada disso é em vão. De que eu não estou alimentando uma coisa surreal. Eu queria poder abstrair.
- E por que não o faz?
- Porque toda vez que eu tento essas coisas me acontecem. Alguém fala o nome. Eu avisto. Levo um encontrão. Quase levo outro.
-E você ainda me pergunta se coincidências existem?
Fez-se silêncio. Um silêncio mais longo. Até que a mãe:
- Só te digo uma coisa, filha. O que é seu está guardado. O que é do homem, o bicho não come.

"Eu amava como jamais poderia se soubesse como te encontrar."
Oswaldo Montenegro