Ninhá!

Eu queria poder te encontrar. Te encontrar ocasionalmente, como todas as outras vezes. Sem planejar, sem sofrer por pensar nisso, naturalmente. Queria te encontrar assim, sem preparo, sem palavras prontas. Ambos nus de qualquer artificialidade, convenção ou modismo.

Eu queria poder te encontrar e conversar sobre qualquer coisa. Qualquer uma já servia, já que muito provavelmente eu ficaria sem palavras e presa em teu olhar. Queria te encontrar e conversar, cara a cara, olhos nos olhos para que os seus pudessem me arrastar para o fundo deles. Queria te encontrar e saber o que falar, sem me preocupar com o risco de falar alguma besteira ou alguma coisa sem sentido.

Eu queria sentar ao seu lado. Ao seu lado o suficiente para encostar minha coxa na sua e ouvir sua respiração. E fingir que não existia. Simplesmente porque não sei o que faria se você olhasse pra mim. Queria me sentar ao teu lado, para que você entendesse que eu sempre estive ali. Que o meu lugar deveria ser ali. Do teu lado.

Queria, talvez quem sabe, sentar-me à tua frente. Sem barreiras formais entre a gente. Sem pronomes de tratamento. Sem formalidade, sem capas.

Queria segurar sua mão. Firme, forte, seguramente. Queria segurar sua mão esquerda. Ou direita. Queria segurá-la... Mas não como forma de cumprimento, formal e impessoal. Queria andar de mãos dadas com você, ao teu lado, dedos entrelaçados ou não. Palma da mão com palma da mão. Aquele frio na barriga que há muito eu tenho sonhado.

Queria ter certeza absoluta e com provas científicas de que coincidências não existem. Que acasos não nos dão esperanças à toa. Que a esperança pode sim ser palpável, além de sonhável. Queria que todos os meus pensamentos canalizados não fossem à toa, não ficassem perdidos por aí, tolamente. Queria ter certeza de que nada é por acaso, que tudo tem razão. Porque eu acredito, mas às vezes nada parece ser real.

Queria ter certeza de que o destino não prega peças de mal gosto, tipo primeiro de abril. Que ele é generoso com os que sonham, se guardam de corpo e alma, tem fé e amam. Que quando é para acontecer, vai acontecer, não importam as intercorrências. Que quando duas pessoas tem que ficar juntas, elas ficarão. Que quando é pra gente ir a determinado lugar, há um propósito específico.

Queria poder passar as mãos pelo teu cabelo. Liso, bagunçado e castanho. Queria penteá-los com meus dedos para trás e ouvir sua risada gostosa enquanto faço isso. Queria sentir seus cabelos por entre meus dedos como tantas vezes te senti, escorregando por entre eles. Queria sentir o teu perfume mais de perto, teu cheiro de pele, a maciez do teu cabelo.

Eu queria... Ah, como eu queria! Provar da maciez dos teus lábios e saber se elas condizem com a da tua voz. Queria teu gosto, teu cheiro, teu eu.

Queria poder saber como e quando te encontrar. Ou não. Porque toda vez que eu planejo algo, não acontece. E o destino se encarrega de marcar nosso encontro. Queria muito, mas muito mesmo saber que essas coisas não são da minha cabeça, que as peças do quebra cabeça se encaixam sim sem serem forçadas em lugares e peças errados.

Queria poder te abraçar. Queria te abraçar e sentir seu coração o mais próximo possível do meu. Queria te abraçar e sentir sua proteção, sua pele, teu corpo envolvendo o meu. Queria ser o teu refúgio num dia difícil, tua amiga para todas as horas, teu ombro amigo pra chorar, quem você recorreria a desabafar. E depois de tudo isso, queria ser o colo em que você repousaria a cabeça e dormiria com um cafuné.

Queria ser teu apego, teu sossego, fonte de tua inquietação, tua certeza e incerteza. Tua parceira. Teu motivo de ciúmes bobo, crises de riso, tua gargalhada mais profunda. Tua admiração.

Queria contar estrelas ao teu lado, deitados na grama, platonicamente. Queria assistir futebol ao teu lado, brigar contigo por torcermos por times diferentes. Queria te fazer assistir minha série preferida comigo.

Queria poder olhar nos teus olhos e falar tudo que eu sinto e que queria que você um dia soubesse. Eu queria mesmo era que você soubesse da minha existência. Que se lembrasse de mim. Nem se for só às vezes. Nem se foi apenas uma vez, ao final do dia. Ao ver o por-do-sol. Ao término das tuas obrigações do trabalho.

Queria não precisar te esquecer. Nem tentar, sequer! Queria que não me dessem conselhos de como esquecer alguém... Porque todos eles são falhos. Queria não querer esquecer de ninguém nunca! Queria poder levar um pedacinho de cada um daqueles que cruzam meu caminho. Inclusive você.

Queria saber que um dia você lerá isso. E entenderá que é pra você e por você. Sempre foi. Desde que te conheci.

"Sinceramente ainda acredito em um destino forte e implacável.
E tudo que nós temos pra viver é muito mais do que sonhamos."
Jota Quest - Vem Andar Comigo