Ninhá!
Se eu tivesse que escolher pessoas para passar a vida toda seriam vocês. Se eu tivesse que escolher novamente passar quatro anos da minha vida longe dos meus pais, seria com vocês. Se eu tivesse que escolher uma loira e uma morena (e nem somos o Tchan) seriam vocês.

Vocês representam uma parte da minha vida de intensidade tão grande quanto é possível resumir em uma só palavra: AMIZADE.

E quatro anos foram resumidos numa despedida de cinco minutinhos, talvez atordoadas pela separação. Eu não consegui me despedir direito e duvido que um dia conseguirei. É difícil dizer tchau pra quem a gente ama.

Se eu tivesse que escolher chorar de novo, desabafar, falar sobre amores e amizades que não deram certo, seria com vocês. Vocês representam pra mim a melhor companhia pra comer pizza, ir ao McDonalds, fazer brigadeiro com bolachas, ir ao P.A do HU (ou ao do HC né Nicole - traumatizante), ir ao shopping, fazer maratona Harry Potter...
Devo dizer que Papai do Céu foi generosíssimo comigo colocando vocês em minha vida. Devo ainda dizer que sou muito melhor agora do que quando conheci vocês.

Mas é época de mudanças. Li que, ao contrário do fim do mundo, 2012 termina um ciclo para que outro, de mudanças e renovações ocorra. Coincidência ou não, devo utilizar a terapia do Putz pra não falar besteira aqui. Porque por mim, eu passaria a vida toda com o meu Triplex.

Bom, coincidência ou não, justamente no final de 2012 uma coisa muda para nós: acabou-se um ciclo. Um ciclo de importantes aprendizados (morais e intelectuais), um ciclo de escolhas.

Tenho muito orgulho de vocês. Por terem se formado como médicas sim, mas principalmente por serem quem são. Por serem pessoas maravilhosas, generosas, bem-humoradas, por carregarem brilho no olhar.

Quantas vezes uma chorou no ombro na outra, né? E quase todas as vezes isso acabou em pizza... Ou Mc, ou brigadeiro... Acho que vocês estão na lista das pessoas que mais me viram chorar. Chorar por amor, por "amizade", pelos grandes filhos das... Ops! Filhos das PUTZ que tem por aí... Enfim, acredito que quando você chora na frente de alguém a pessoa te conhece por inteiro. Como se fosse necessário chorar pra isso né. rs

Enfim, o que eu tenho a dizer é que agradeço muito por ter feito parte do melhor Triplex do Universo. Agradeço por fazerem parte da minha vida e por deixarem eu ser a Boretinha de vocês. Eu gostaria de mudar um pouco e utilizar outra palavra, mas não tenho, acho que sequer existe: mas eu AMO muito vocês.


"A Amizade é um amor que nunca morre."
Mario Quintana


Ninhá!
Um dia você vai encontrar alguém. Alguém, mas não qualquer um. Alguém que te tirará do sério. Do chão. Alguém que vai representar as nuvens e o porto seguro ao mesmo tempo. Alguém que vai parecer que você conhece há séculos.

Um dia você vai encontrar alguém que não vai se importar com a cor do seu cabelo, com seu tipo físico ou se você dá risada escandalosa ou contida. Alguém que não vai medir que roupa você está usando, nem de que marca é. Nem se você está descalça ou de tênis.

Um dia você vai encontrar alguém que te chama de neurótica mas te ajuda a resolver seus problemas. Alguém que te apóia e te dá abrigo num sorriso. Paz com um olhar. Alguém que lembre e você nas orações diárias e que se recorde a todo momento como a sua covinha do rosto aparece quando você ri. Alguém que briga com você quando você tem crise com o próprio corpo.

Um dia... Ah, um dia você vai encontrar Alguém que te admira pela sensibilidade, inteligência e pureza de coração. Alguém no qual você admira exatamente isso também. Porque vocês se complementam. Veja, eu escrevi complementam, não completam. Porque você já é inteir@ assim. E ele sabe disso.

Um dia você vai encontrar alguém sem o sentimento terrível de posse. Sem o ciúmes doentio. Alguém com um sentimento amplo dentro daquilo que você acredita, daquilo que você é e gosta. Você vai encontrar alguém que tenha ideais, valores morais semelhantes aos teus. E ambos irão se admirar por ter encontrado alguém com quem compartilhar tudo isso.

Vai entender que o AMOR tem várias faces. Que existem várias formas de amor e de amar. Que você pode amar várias pessoas. Que é nobre amar. Que amar é um sentimento diferente de posse. Que amar é querer a felicidade do outro. Que amar às vezes é abrir mão. Que o amor verdadeiro não é doentio. E que, acima de tudo, ele é eterno.

Um dia você vai encontrar alguém que você mereça. E, como já dizem, aí então vai entender porque nunca deu certo antes com ninguém. Você vai encontrar alguém com a qual deverá viver uma história, compartilhar vida. Alguém que te faz pensar na expressão "escrito nas estrelas". Alguém que dá sentido à palavra destino.

Um dia você vai entender porque vale a pena ser doce. Vale a pena ser sincero consigo mesmo. Vale a pena não banalizar nenhum tipo de coisa. Vale a pena se respeitar. Um dia você vai receber a recompensa de ter tido fé e paciência. Vai perceber que a melhor forma de alguém nos amar é a gente tem amor-próprio. Vai perceber que antes de querer ser dois, é necessário ser um (como já diria Fernando Pessoa, se não me engano). Vai perceber que a maldade existe, mas que o bem sempre vai vencer. Vai perceber que quem se auto-afirma demais é quem mais sofre as consequencias das escolhas que fez.

A gente tem mania de imediatismo e acha que para encontrar esse Alguém é preciso procurar. Mas esquece que quando as coisas tem que ser, elas simplesmente acontecem. Você vai tentar encaixar outros alguéns no lugar do Alguém. Mas serão Ninguéns... Simplesmente porque talvez seja para serem Alguém para outra pessoa.

Um dia você vai encontrar Alguém e vai compreender porque precisou se preparar tanto. Vai entender o quão preciosa foi a limpeza de coração. Vai ver que esperar valeu a pena, pois a paciência é uma virtude. Um dia você vai encontrar alguém que também amadureceu, se preparou, foi feliz e triste com outras pessoas também. Alguém que quis encontrar alguém e nunca achou até então.

E então, quando ambos estiverem cansados de se procurarem, vão entender o porque é importante marcar um ponto de encontro, mesmo que no subconsciente. Mesmo que esquecido. E vão lembrar porque quando se procura alguém não se deve sair do ponto de encontro marcado, do contrário ambos se procuram e nunca se acham.

E então, um dia você vai encontrar... Encontrar não. Um dia vocês iram se reconhecer.


"Será fácil reconhecê-los, palavras não serão necessárias, e nem mesmo será preciso saber seus verdadeiros nomes. Saberá encontrá-los pela afinidade de suas energias, pelo chamado de seus corações e pela profunda identificação com seus sentimentos."
Novela Amor Eterno Amor

Ninhá!
Eu gosto de ser tua mulher. TUA mulher. Não por pertencer a você, afinal, a época em que seres humanos pertenciam a outros seres (humanos?) já se foi. Há muito tempo. Mas digo isso por querer ser tua. Tua mulher. Tua namorada. Tua amiga. Tua companheira. Tua parceira. Simplesmente tua.

Gosto quando você me faz rir, seja por alguma besteira que você diz ou por cócegas nas costelas. Gosto quando morde a ponta do meu nariz. Gosto quando andamos de mãos dadas. Ou você me enlaçando a cintura. Ou quando apostamos corrida e você me deixa ganhar. Ou me ultrapassa sem dó nem piedade e eu tenho que usar de meios ilícitos e fingir uma torcida de pé.
Gosto quando você me carrega de cavalinho quando o salto acabou com o meu pé. Quando me dá sua blusa para eu não sentir frio. Quando deixa de me dar a mão e oferece o braço para eu andar de salto num terreno mais desnivelado.

Eu posso estar sendo mulherzinha demais (e me desculpem as feministas extremas, fazer o quê, cada um a seu modo), mas eu gosto de cozinhar pra você. E gosto ainda mais quando você cozinha pra mim. A forma com que você entende de carnes, proporcional ao meu entendimento de sobremesas. Gosto quando estou lavando a louça (e afirmo que é só disso que gosto quando lavo a louça) e você chega e encaixa a barriga na minha lombar. E aproveita pra se oferecer para lavar, para não estragar as minhas unhas feitas.

Paradoxalmente gosto da saudade que deixa quando se vai. Quando nunca volta. Quando nunca vem. Gosto da saudade que sinto dos teus olhos e sorriso eternizados na minha memória. Embora eu queira os ver mais e mais vezes... Eu gosto da forma de sentir saudade deles. Porque mesmo a saudade me traz alegria. Se faz um ano que conheço esse teu novo olhar, esse teu novo sorriso, um ano faz que sinto saudade diariamente. Mesmo quando o vejo.

E é uma saudade gostosa. Saudosa. Saudável. Uma saudade de quem ama, se ama e busca ser amada. Um sentimento descomunal de indignação que me faz pensar... Por que não te conheci antes? Antes de tudo acontecer com a gente. Antes de nos descobrimos separados. Antes de tudo.

Teria sido tudo diferente? Não sei. Por enquanto prefiro a diferença se ser tua.


"Então o amor e a amizade são isso. Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam. Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço." 
Mário Quintana
Ninhá!
Um dia, há um tempo atrás, sonhei com você.

E conforme todo sonho que se preze, além de não ter muito sentido, ou não nos lembramos ou lembramos só uma parte marcante.
Se teve muito, pouco ou sentido algum eu não sei, não me recordo dele por completo. Mas a parte que eu me lembro fica em mim desde então.

Um dia eu sonhei com você. E fiz do meu dia um dia mais feliz. 

Estou dividida se digo que essa parte era uma promessa ou um aceite. Não sei dizer se você me aceitava pelo jeito que eu sou (ou era no sonho) ou prometia aceitar. O que importa é que aquilo me trouxe (e ainda hoje traz) uma completa e perfeita paz de espírito, como se um dia o sonho se tornará realidade.
Existem sonhos que se realizam. Ou não. Ou em parte. Ou tem algum significado.

Um dia eu sonhei com você. E este sonho, de alguma forma, me faz ter esperança. Uma esperança que clareia o pensamento, que acalma o espírito, que arranca da alma um suspiro longo e profundo.

Eu não sei o que esse sonho significa (e tenho até medo de procurar o significado. A Marii vai me entender.) e nem se ele significa algo. Mas uma vez meu amigo Pe. Luciano disse que os sonhos que ficam na nossa mente, o que nos é permitido lembrar, não ficam por acaso. Quero dizer, se a gente lembra, é porque tem um sentido. Talvez a gente não entenda agora, mas as peças se encaixarão. Espero que ele esteja certo.

Um dia eu sonhei com você. Segurando as minhas mãos, olhando nos meus olhos e dizendo que eu não precisava mudar em nada para ser tua. Que não era necessário amadurecer, crescer, fazer nada. Que a gente aceita quem a gente ama.

Um dia me disseram que príncipes encantados não existem. Que princesas também não. Mas, na minha opinião, estas pessoas não souberam procurar. É que hoje em dia príncipes e princesas são tão raros que não se encontram em qualquer balada por aí. E um legítimo príncipe só pode ser encontrado por uma princesa. E a princesa, por um príncipe. Balela é sair beijando sapos pra tentar achar um príncipe camuflado por aí.

Um dia eu sonhei com você. E no final do sonho você me dava o mais belo sorriso tolice, qualquer sorriso teu já é o mais belo! Um sorriso sincero, iluminado. De dentes certinhos e branquinhos.

No meu sonho, você era uma espécie de príncipe. E, pensando bem, quando eu te conheci, também foi. Ora, o príncipe não é a personificação do bem, da honra, da gentileza? Engraçado (e talvez seja justamente por isso que te identifiquei no sonho) é que teus olhos de ressaca e teu sorriso perfeito eram os mesmos da realidade.



Um dia eu sonhei com você. E você aconteceu.


"Deitada no ombro dele, ela via seu rosto muito próximo. Esse era o sonho, nada mais." 
Caio F. Abreu

Ninhá!



E hoje eu descobri que eu ainda te amo. 

Como? Simplesmente me veio à cabeça uma imagem tua. E eu percebi que desde que conheci, nunca mais esqueci teus olhar, teu sorriso perfeito, teus olhos de ressaca.
Daí me veio à mente que eu sinto algo por você. E acho que é amor. Daqueles amores que a gente sabe só de olhar.
Hoje penso que amo o oposto, o mistério, a descoberta, a timidez, o riso difícil mas alegre, a presença forte e doce. Amo a antítese, o paradoxo. A oportunidade perdida. A segunda chance jamais concedida. E amo teus olhos. Teus doces olhos que me arrastam. E arrasam.
Queria você sempre assim comigo: testa com testa, nariz com nariz... Lábios se encostando. Respirações dividindo-se. Queria sempre ter a visão de você parando de escrever para me olhar de baixo pra cima quando eu comento algo. Ou mudando a direção do seu olhar da tela do notebook para mim ao meu simples chamado. Ou aquele momento de encontro e reencontro onde os olhares se encontram. E eu não faço ideia do efeito do meu em você. Mas muito provavelmente ele se anula porque foi tragado na imensidão do teu.
Sofrer? Sofrer após um ano inteiro? É, é possível sim. Tão possível que te provo agora. Mas que tipo de sofrimento? O sofrimento pelo platônico, pelo não realizado, pelo querer e saber que nem sempre o querer é poder. 
O sofrimento de quem ama calado. Ama tanto que abre mão. Ama tanto que não se intromete na felicidade do amado. Ama tanto que cuida de longe. Reza todos os dias. Torce todos os dias. Sofre sozinho e calado, nas lembranças do mais bonito sorriso e olhar que conheceu.


"E a minha alma alegra-se com seu sorriso, um sorriso amplo e humano, como o aplauso de uma multidão."
Fernando Pessoa

Ninhá!
Eu não era mais uma criança. Aliás, eu não sou mais uma criança. Mas acho que ele não entendeu ainda. E, após me abraçar por uns 5 minutos, ficou me olhando bem fundo nos olhos, daquela forma que apenas pais (ou aqueles dotados de paternidade) conseguem olhar. Então ele disse:
- Cookie - quando eu era mais nova eu odiava esse apelido comum no país dele. Depois passei a gostar. E depois a sentir vergonha. E agora, soa como música aos meus ouvidos, pelo som da voz dele. - Você está diferente.
- Eu cresci, ué. - Respondi, tentando esconder o que estava na cara.
- Também. Agora você mora com seu pai de verdade, né. - Ele disse, com uma expressão dividida entre o tentar parecer feliz e o realmente triste.
- Pai é aquele que cria, certo?
- Sim, mas ele sequer teve a chance, não é mesmo?
- Sim, mas você teve e é o melhor do mundo. - repliquei.
- O melhor do mundo? - ele sorriu.
- Sim! O melhor do mundo! Senti sua falta! - e tornei a abraçá-lo.

E, após uns minutos no abraço dele, senti que seus olhos grandes e verdes me olhavam.
- Você mudou de assunto, Cookie.
- Que assunto?
- Que você está diferente.
- Impressão sua.
- Pais nunca tem impressão errada.
- Nem mães - disse, por mais que aquilo me doesse. Lembrar dela ainda doía.
- Certamente não - ele concordou.
- Sinto falta dela. - admiti.
- Eu sei.
- Quando... Bem, quando vocês se separaram, doeu tanto assim? - perguntei, correndo o risco de parecer idiota.
Ele pensou por um instante. E por todo esse instante eu me dei conta que eram coisas completamente diferentes. Então ele respondeu:
- Doeu. Mas são dores diferentes. Eu sequer consigo imaginar a dor que você sente. Nem eu e nem seu pai biológico. Mas acredito que não te conhecer até seus 20 anos doeu muito mais a ele.
- Será? - duvidei.
- Com certeza. Não duvide disso. Me separar dela doeu. Mas doeu mais ainda ser obrigado a me separar de você. Porque são sentimentos diferentes.
- É, eu sei... - tive que concordar.
- Mas me diga. - ele insistiu - O que aconteceu?
- Tudo. Tudo aconteceu.
- Não estou falando do que aconteceu com a tua mãe. Estou falando desse brilho no olhar. Desse sorriso. Dessa forma de caminhar - dizia ele com todo o sotaque dele, às vezes trocando palavras do português para o inglês.
- Não entendo. - tentei esconder. Mas eu sabia que, sendo chefe de alguma coisa de algum setor da polícia da cidade onde ele estava trabalhando agora, ele não ia deixar escapar uma mentira bem debaixo do nariz dele.

Ele me olhou profundamente de novo. Então eu fiz o maior esforço que pude para evitar que ele lesse meus pensamentos. Acho que fiz tanto esforço que franzi a testa.
- Se esforçando para o quê? Pensar no que vai me dizer para esconder o que tá acontecendo aí dentro? - e apontou para o meu peito.
Depois dessa eu apenas ri. Será que não se pode mais guardar segredos?
- Você pode me contar se quiser - ele continuou - Eu adoraria saber dos seus sentimentos e conversar sobre eles.
- Não é tão simples assim. - respondi, tentando responder o mínimo possível porque... Bem, vocês mulheres  sabem: quanto mais a gente fala, mais o choro sai.
- Não é tão simples assim because... - e deu ênfase não só com a voz, mas também com um aceno de cabeça.
Foi então que eu decidi que as minhas mãos eram a mais bela coisa a se olhar naquele momento. Sim, porque olhar o horizonte é dramático demais. Olhar uma das árvores ou flor daquele parque é romântico demais e me denunciaria. Olhar para o chão é culpado demais. E fingir que olhava o esmalte me pareceu a melhor das ideias. Então me dei conta que não havia esmalte para olhar.
- Quem é? - ele perguntou.
- Ah, você não conhece. - e acrescentei: - E, pelo visto, nem vai conhecer.
- Morreu?
- Ah não não. Mas deve morrer para mim. - falei, tristemente, tentando não ser dramática demais.
- Because...?
- Because nada. Simplesmente porque as coisas devem ser assim - eu disse - O platônico, o sublime, o puro é lindo. Mas na verdade só um dos dois sofre. Não se tem ninguém para dividir esse sentimento.
- Divida-o comigo.
- Não posso. Não consigo. Eu não consigo evitar. Eu gosto dele, eu amo ele. Depois de quase um ano nada mudou.
- Nada?
- Nada. Bom, talvez algo. - pensei bem.
- O quê?
- A realidade. - pensei, deixando que uma lágrima caísse. - Entender o que é nunca. Talvez isso tenha mudado.
- Nunca é algo que nunca vai acontecer. Você tem apenas 20 anos. Acho que nunca não deveria existir no seu vocabulário. Você não conheceu seu pai biológico 20 anos depois de nascer? - ele argumentou.
- ELE quis me encontrar também. Foi recíproco. Não foi platônico. - respondi.
- E o que faz desse rapaz tão especial?
Pensei por um tempo. Mas já que já havia feito minha confissão, resolvi continuar:
- Primeiro foi os olhos. Depois, o sorriso. Aí quando eles se juntaram... Bom, eu já estava dentro dos olhos dele. Do olhar dele. E eu vi ele hoje.
- Acho que ele ficaria honrado em saber que é amado de uma forma tão pura.
- Não sei por quê, mas senti um tom de brincadeira na sua voz. - desconfiei.
- Deve ser o sotaque, então. Eu juro que achei bonito o que você disse.
- Não é bonito, é triste.

Ele então pegou o crucifixo que usava ao pescoço (é um tique que ele tem, quando pensa no que vai falar), correu ele pela correntinha e voltou a guardar dentro da camisa. Estava pronto para dizer algo.
- Não é triste. É belo. Não se acha mais amor desse jeito. Nessa forma. É raro.
- Bom pra quem não sente, né.
- Jamais. Cookie, pode me chamar de velho, obsoleto e enferrujado. Mas sentir que se ama alguém é algo perto do sublime. Quando se ama de coração puro, sem condições, sem amarras e sem a intenção de receber algo em troca... É puro, é sublime. É lindo.
- Eu queria que ele me amasse também - e assim assinei embaixo a minha confissão.
- Mas você já ama ele há um ano. Quase um ano amando e sem ter a certeza se é recíproco ou não o sentimento. Você não espera nada em troca.
- Ótimo, sou uma masoquista agora.
- Perto. Mas você está se esquecendo de que ele pode ter sentido o mesmo com o teu olhar, o teu sorriso, a tua voz e a tua risada. E simplesmente não aconteceu nada. Porque não era o momento. E nem o lugar. E talvez ele tenha se assustado. E vocês se separaram em instantes.
- Então, triste isso.
- Para os dois lados. Logo, você tem com quem dividir. Em pensamento.
- Não me conforta isso - admiti.
- Sabe, Cookie, nem todo mundo que a gente conhece é para permanecer em nossas vidas. Mas o momento em que a conhecemos, e principalmente quando conhecemos as especiais, esse é único. É eterno. E é daí que a gente percebe que se encontrou não só com aquele ser humano, em carne e osso. Digamos que seja mais para um re-encontro.
- Você anda muito filosófico ultimamente.
- "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia." - recitou ele sua peça de teatro favorita.
- E há mais coisas entre o cérebro e o coração do que eu queria que houvesse - parodiei.
- O quê, por exemplo?

Pensei. Pensei de novo. E então respondi:
- Uma cabeça e um pescoço, oras!

Ele deu aquela risada que dificilmente ele deixava escapar. Aquela risada que me lembrava que ele não era tão sério assim. Ele estava apenas "endurecido" por tanta realidade e tão pouco sonho que via no dia-a-dia. E aproveitei o momento de descuido dele para guardar no bolso o papelzinho que continha as letras e a assinatura da razão daquela conversa.

Do livro: Joguem no Google e Descubram. Se é que ele existe.

"A vida é breve, a alma é vasta" 
Fernando Pessoa

PS: Dedicado a você, Gêmea, pela força e por me cobrar textos novos.
Ninhá!

Eu queria poder te encontrar. Te encontrar ocasionalmente, como todas as outras vezes. Sem planejar, sem sofrer por pensar nisso, naturalmente. Queria te encontrar assim, sem preparo, sem palavras prontas. Ambos nus de qualquer artificialidade, convenção ou modismo.

Eu queria poder te encontrar e conversar sobre qualquer coisa. Qualquer uma já servia, já que muito provavelmente eu ficaria sem palavras e presa em teu olhar. Queria te encontrar e conversar, cara a cara, olhos nos olhos para que os seus pudessem me arrastar para o fundo deles. Queria te encontrar e saber o que falar, sem me preocupar com o risco de falar alguma besteira ou alguma coisa sem sentido.

Eu queria sentar ao seu lado. Ao seu lado o suficiente para encostar minha coxa na sua e ouvir sua respiração. E fingir que não existia. Simplesmente porque não sei o que faria se você olhasse pra mim. Queria me sentar ao teu lado, para que você entendesse que eu sempre estive ali. Que o meu lugar deveria ser ali. Do teu lado.

Queria, talvez quem sabe, sentar-me à tua frente. Sem barreiras formais entre a gente. Sem pronomes de tratamento. Sem formalidade, sem capas.

Queria segurar sua mão. Firme, forte, seguramente. Queria segurar sua mão esquerda. Ou direita. Queria segurá-la... Mas não como forma de cumprimento, formal e impessoal. Queria andar de mãos dadas com você, ao teu lado, dedos entrelaçados ou não. Palma da mão com palma da mão. Aquele frio na barriga que há muito eu tenho sonhado.

Queria ter certeza absoluta e com provas científicas de que coincidências não existem. Que acasos não nos dão esperanças à toa. Que a esperança pode sim ser palpável, além de sonhável. Queria que todos os meus pensamentos canalizados não fossem à toa, não ficassem perdidos por aí, tolamente. Queria ter certeza de que nada é por acaso, que tudo tem razão. Porque eu acredito, mas às vezes nada parece ser real.

Queria ter certeza de que o destino não prega peças de mal gosto, tipo primeiro de abril. Que ele é generoso com os que sonham, se guardam de corpo e alma, tem fé e amam. Que quando é para acontecer, vai acontecer, não importam as intercorrências. Que quando duas pessoas tem que ficar juntas, elas ficarão. Que quando é pra gente ir a determinado lugar, há um propósito específico.

Queria poder passar as mãos pelo teu cabelo. Liso, bagunçado e castanho. Queria penteá-los com meus dedos para trás e ouvir sua risada gostosa enquanto faço isso. Queria sentir seus cabelos por entre meus dedos como tantas vezes te senti, escorregando por entre eles. Queria sentir o teu perfume mais de perto, teu cheiro de pele, a maciez do teu cabelo.

Eu queria... Ah, como eu queria! Provar da maciez dos teus lábios e saber se elas condizem com a da tua voz. Queria teu gosto, teu cheiro, teu eu.

Queria poder saber como e quando te encontrar. Ou não. Porque toda vez que eu planejo algo, não acontece. E o destino se encarrega de marcar nosso encontro. Queria muito, mas muito mesmo saber que essas coisas não são da minha cabeça, que as peças do quebra cabeça se encaixam sim sem serem forçadas em lugares e peças errados.

Queria poder te abraçar. Queria te abraçar e sentir seu coração o mais próximo possível do meu. Queria te abraçar e sentir sua proteção, sua pele, teu corpo envolvendo o meu. Queria ser o teu refúgio num dia difícil, tua amiga para todas as horas, teu ombro amigo pra chorar, quem você recorreria a desabafar. E depois de tudo isso, queria ser o colo em que você repousaria a cabeça e dormiria com um cafuné.

Queria ser teu apego, teu sossego, fonte de tua inquietação, tua certeza e incerteza. Tua parceira. Teu motivo de ciúmes bobo, crises de riso, tua gargalhada mais profunda. Tua admiração.

Queria contar estrelas ao teu lado, deitados na grama, platonicamente. Queria assistir futebol ao teu lado, brigar contigo por torcermos por times diferentes. Queria te fazer assistir minha série preferida comigo.

Queria poder olhar nos teus olhos e falar tudo que eu sinto e que queria que você um dia soubesse. Eu queria mesmo era que você soubesse da minha existência. Que se lembrasse de mim. Nem se for só às vezes. Nem se foi apenas uma vez, ao final do dia. Ao ver o por-do-sol. Ao término das tuas obrigações do trabalho.

Queria não precisar te esquecer. Nem tentar, sequer! Queria que não me dessem conselhos de como esquecer alguém... Porque todos eles são falhos. Queria não querer esquecer de ninguém nunca! Queria poder levar um pedacinho de cada um daqueles que cruzam meu caminho. Inclusive você.

Queria saber que um dia você lerá isso. E entenderá que é pra você e por você. Sempre foi. Desde que te conheci.

"Sinceramente ainda acredito em um destino forte e implacável.
E tudo que nós temos pra viver é muito mais do que sonhamos."
Jota Quest - Vem Andar Comigo
Ninhá!

- Mãe, coincidências existem?
Os olhos grandes e bondosos a fitaram, entendendo o sentido da pergunta:
- Não filha. Não existem. Tudo tem um por quê. Uma razão.
- E então? Por que... Bem, você sabe. Se tudo tem um por quê... Até mais os singelos encontros não são em vão, né?
- Não, não são. Os encontros e até mesmo os desencontros nunca são em vão.
Silêncio. Elas se olharam.
- Mas mãe... Como pode? Como pode me acontecer uma coisa dessas?
- Certas coisas não tem explicação... Pelo menos não tem explicações nossas. Mas tem alguma razão.
- Mas por quê? Por quê? Eu tento mãe, você sabe que eu tento. Mas quanto mais eu tento, mais as coisas convergem para que eu lembre.
Novo silêncio. Os dois pares de olhos grandes e escuros se encaram. Um dos pares tinha um brilho incessante, resistente, alegre e triste ao mesmo tempo.
- E o que eu faço agora mãe?
- Você já percebeu que todos os planos que você fez, todas as ideias que você teve... Nenhuma deu certo? Não premeditadamente.
- É, mas...
- Mas sem você esperar, sem planejar, sem saber... Você o encontrou novamente.
- Eu tô ficando louca mãe. Eu estou enlouquecendo. Não é possível.
A mais velha dentre as duas sorriu. Um sorriso doce, carregado de ternura. Então disse:
- O que é pra ser, será. E quando as coisas são para ser, quando é destino das pessoas se encontrarem... Elas vão se encontrar. Haverão oportunidades. Segundas e terceiras chances.
- Eu já passei pela segunda?
- Filha, mas que pressa é essa?
- É que dói mãe! Dói de ficar o coração apertadinho. Acho que sou cardiopata.
A mãe riu-se das besteiras desesperadas da filha. Seu doce olhar pousou nas mãos da filha, que mexia nervosamente no celular.
- Não tem graça, mãe.
- Ora, tem sim, senhorita.
- Não tem. Dói, é sério. Aperta aqui ó. Eu vi ele e me deu até vontade de chorar.
- Chorar?
- É! Chorar. Foi uma coisa indescritível. E você aí rindo de mim.
- Ora, filha. É que você fica engraçada desse jeito.
- Fico não ó. - e fez biquinho franzindo a testa.
- Até ele estava rindo hoje. Ria você também.
- Mãe... Duas vezes num só dia! Como pode mãe? Como pode ser possível? Por quê? Será que tudo isso pra nada? Simplesmente pra alimentar uma coisa que não vai dar em nada?
- Você está sendo muito imediatista.
- Eu só queria ter uma certeza de que nada disso é em vão. De que eu não estou alimentando uma coisa surreal. Eu queria poder abstrair.
- E por que não o faz?
- Porque toda vez que eu tento essas coisas me acontecem. Alguém fala o nome. Eu avisto. Levo um encontrão. Quase levo outro.
-E você ainda me pergunta se coincidências existem?
Fez-se silêncio. Um silêncio mais longo. Até que a mãe:
- Só te digo uma coisa, filha. O que é seu está guardado. O que é do homem, o bicho não come.

"Eu amava como jamais poderia se soubesse como te encontrar."
Oswaldo Montenegro
Ninhá!
Se bastasse só a distância, tudo bem. Se bastasse só o "não-ver", ótimo. Se bastasse o não-ouvir... Melhor ainda! Mas não... Nada disto basta.

Engraçado como alguns encontros acontecem do nada e parecem rumar para o nunca mais. Parecem, eu digo, porque a gente nunca tem certeza do futuro. De repente a gente se encontra por aí, numa mesma festa, num mesmo aniversário... Enfim.

Acontece que (e eu acredito muito nisso) quando os olhares cruzam e deles brota um sorriso... Bem, você querendo ou não... Já é um momento eternizado. Sim! Porque quando se olha fundo nos olhos... Acontece um encontro das almas. E para almas, as coisas nunca são passageiras ou esquecidas.

Talvez se não fosse aquele fatídico dia, se não fosse a coincidência do destino (Afinal, coincidências existem?), se não fosse a sorte o ou azar que levou a tal situação...
Talvez não houvesse esse encontro de olhares, de sorrisos, de almas. Talvez não houvesse a química do momento, o bem estar da compreensão, a gargalhada perdida num momento onde nunca se imaginaria achar graça de algo.

Na hora você fica descrente. Totalmente descrente. Explico: ou você pode acreditar que nada daquilo está acontecendo (vulgo pés nas nuvens e cabeça na galáxia), ou então não acredita que aquilo é real, que é recíproco ou que é algo especial.

Vivi a primeira opção. Vivi e vivo até hoje, porque a expectativa é a mesma (mesmo com o passar do tempo) quando as coisas são verdadeiras.

E daí você se pega relembrando os detalhes... Sim, os detalhes! Porque, sem detalhes, que graça a vida teria, não é mesmo?

Olha, você não deveria ter se apresentado daquele jeito. Você não deveria ter esses olhos de ressaca (não, ele não tava bêbado) e muito menos esse sorriso perfeito. Nem a voz aveludada e grave. Nem esse jeito de escrever! Você não deveria raptar as pessoas com um só olhar... Nem dar uma gargalhada gostosa no meio e tanta seriedade sua. Nem falar mais alto quando estávamos nos despedindo, o que me fez abrir a porta de novo.

E o principal: você não deveria levantar o olhar (como quem olha de baixo pra cima) interrompendo sua escrita para me encarar quando eu falo algo.

Você não deveria causar arritmias ou hiperventilações. Muito menos deixar as pessoas sem graça apenas com a sua presença.

Não sei se tudo isso acontece (ou aconteceu) só comigo. Porque, moço, eu levei a pior, tá?

Bom seria se todas essas coisas fossem passageiras. Mas... Faz já algum tempo e eu estremeço quando vejo sua fotinho na rede social, tenho taquicardia quando vejo seu nome... Hey! O que acontece?

A minha pergunta maior é... Tudo isso para quê? Nada? Tudo? Quem sabe um dia? Sempre? No que isso vai dar? Ei, olha! Eu tô aqui! Tem alguém que você pode nem imaginar que gosta, E IMENSAMENTE gosta de você!

Por mais que vocês não se encontrem, por mais que tenha sido um momento, por mais que... Ah, por mais que qualquer coisa! Dane-se. Não é justo, simplesmente não é.

Já pensei ter visto coisas, já tentei me convencer disso... Mas, como já diria uma amiga psicóloga, se convencer do quê? Que nada aconteceu? Nada disso! Se aconteceu, que fique latente, quem sabe essas almas tenham um encontro marcado num futuro próximo? Que fique latente, mas não latejando. Existem outras almas de encontro marcado com as nossas nessa vida.

Existem outros olhares e outros sorrisos. Bonitos cada um a seu modo. Mas, duvido que tão belos quanto os dele.

"E a minha alma alegra-se com seu sorriso, um sorriso amplo e humano, como o aplauso de uma multidão." 
Fernando Pessoa

PS: Meus amores, desculpem-me por ficar tanto tempo sem escrever!