Ninhá!

Acordou no susto. Abriu os olhos. Estava tudo escuro, um breu só. O coração disparado, a mente confusa, sem saber distinguir ainda pesadelo de realidade. Suava frio e estava de barriga pra cima. Ocorreu-lhe que toda vez que dormia em supino de barriga pra cima tinha pesadelos. Não conseguia se mexer e faltava-lhe o ar. Taquicárdica. Taquipneica. Pés, mãos e pontinha do nariz congelados. Esticou o braço, alcançou o interruptor.

Fez-se luz. Ufa. A luz lhe trouxe segurança e ela começou a se acalmar. Sentou-se. Fechou os olhos, mas as imagens do seu pesadelo de duas noites (não consecutivas, mas ainda assim, pesadelos BEM semelhantes) vinham a sua cabeça.

"Calma, foi só mais um pesadelo. Mais um... pesadelo. Só isso." - disse em voz alta pra si mesma.

O vento uivava lá fora (como já diria meu pai, há um monstro que habita os ventos dessa cidade) e a cortina esvoaçava numa dança delicada, que a distraiu por alguns minutos. Normocárdica. Normopneica. Perdeu o sono. Resolveu rezar. Pediu a proteção do Anjo Guardião. Inqueita, levantou-se da cama e caminhou até o banheiro. A luz mais clara (e mais recentemente trocada) queimou quando ela acendeu, o que trouxe uma sensação de arrepio.

Na cozinha, bebeu água e fez leite (não, não ela não é uma vaca, mas o leite era leite Ninho, tá?) bem quente. Sentou-se na frente do notebook sem esperanças de encontrar alguém pra conversar. Mas ela é viciada em internet, e de alguma forma o contato com o mundo, ao invés de assustá-la, causa uma sensação de tranquilidade. Talvez fosse pela necessidade de esquecer seus pesadelos. Talvez pela necessidade de contato que ela tem dentro de si.

Facebook, twitter, orkut, blog. Até as redes sociais faziam um quase silêncio deprimente. Mas eram quatro e quarenta e seis da manhã. Algumas pessoas trabalham, outras estudam, umas tem pesadelos.

Ainda que fosse tarde, ela não sentia sono - ou talvez não quisesse sentir. Leu e releu emails antigos, de amor. Ele sempre teve o dom de acalmá-la. Entretanto, os tempos são outros, e ela havia aprendido a ser por si só. A contar mais com ela mesma, embora contasse com o carinho distante dele.
Pensou. Pensou na atual situação e achou que mandar mensagens de madrugada talvez fosse uma boa ideia. Ela gostava, pelo menos.

Mandou uma mensagem, queria que ele soubesse que estava pensando nele. Sentindo vergonha da própria decisão e completamente insegura, enviou. Na mensagem disse sobre o pesadelo, a insônia que ele provocara e a vontade de estar junto.
Abro um espaço para a breguice aqui: como se adiantasse para passar sua vergonha, escondeu o celular de suas vistas, como uma criança que fez arte. Entretanto, aguçou ainda mais ou ouvidos, a espera de qualquer bipe.

Mas ele não veio. Um minuto, 2 minutos, 10 minutos. Meia hora. Quarenta minutos e nada. "Talvez ele esteja dormindo", pensou. Ou talvez não goste de mensagens de madrugada como ela. Triste e frustrada resolveu tentar voltar a dormir, afinal, insônia deveria ser só para quem pode.

Tentou fugir do sonho-pesadelo acordada. E agora queria dormir pra fugir da realidade. Para se certificar que receberia uma surpresa de manhã, soterrou o celular com almofadas.

Deitou-se e se encasulou no edredon, em prono de barriga pra baixo. Certificou-se de que REALMENTE estava de barriga pra baixo, para não correr o risco. Rezou de novo. Pediu a proteção do Anjo da Guarda também nos sonhos. Pediu paz de espírito e tranquilidade no coração. Pediu um sonho bom. Por fim, ainda na lista dos pedidos, pediu que o Anjo desse a mão pra ela. Enquanto pedia, colocou a mão esquerda pra fora das cobertas, para ele segurar. Apertou a mão do Anjo e fechou os olhos.

Mal acordou e num salto foi a procura do celular soterrado. Nada de resposta. Nada. Colocou-o embaixo das almofadas, numa espécie de castigo. Como se ele tivesse entendido o apuro em que se metera, logo um bipe foi ouvido.

"Ei, você está bem?"

Sim, ela estava. Novamente ela se sentia bem.


"Tem gente que pensa que eu me acho. Mal sabem eles que eu só me perco." 
Caio Fernando Abreu


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2 Responses
  1. And Says:

    ótimo, como sempre.....
    e fechando com o lindo caio, fica melhor ainda!
    mande o pesadelo para longe!


  2. Ninhá! Says:

    And!!!!! Muito obrigada!!

    e sim: XÔ PESADELOS!